Repositório FCC

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Depoimentos

Fúlvia Rosemberg

Integrante do Conselho Editorial

Mulherio! O nome veio da Carmen da Silva, recuperar palavra desairosa sobre nós mulheres. Dar uma piscadela para a irreverência, enquanto imprensa nanica, mas guardando a seriedade de um projeto da Fundação Carlos Chagas. Muita ousadia daquele grupo de pesquisadoras e de jornalistas, produzir um jornal feminista, independente, com recursos escassos, menos nossa vontade de fazê-lo, pontualmente, mantendo, se não a irreverência, pelo menos um bom humor. Adélia Borges e Inês Castilho, corajosas ao embarcarem na experiência, davam o tom. Marlene Rodrigues, diagramadora, compunha o visual. Miriam Tanus mantinha o cotidiano.

As reuniões de pauta eram fantásticas, com sugestões muito avançadas para a imprensa militante mas que nem sempre puderam se concretizar.

A adesão de ativistas e acadêmicas foi imediata e calorosa, colaborando com artigos e comentários. Algumas matérias são inesquecíveis e me voltam à memória, como aquela sobre a velhice com sua dançarina viúva diante do espelho.

Saudades do mulherio!

Adélia Borges

Integrante do Conselho Editorial

Ao lembrar um jornal que contestava as barreiras entre o público e o privado, vou me permitir aflorar lembranças pessoais no texto que saúda a disponibilização, tantos anos depois, da íntegra do Mulherio nas redes virtuais. Foi uma experiência muito rica para mim, pois pude fazer uma conexão até então inexistente entre a minha vida e a minha profissão.

Se não me engano, a indicação de meu nome partira de Carmen Barroso, que eu entrevistara longamente para uma edição do semanário de esquerda Movimento, dedicada à questão do trabalho da mulher no Brasil, que fora totalmente censurada alguns anos antes. Tivemos o privilégio de ter a nosso lado um time brilhante, que incluia Maria Rita Kehl e Ruth Cardoso entre as conselheiras; Fátima Jordão e Rosiska Darcy de Oliveira entre as colaboradoras; Claudia Jaguaribe e Nair Benedicto entre as fotógrafas. A presença de Fúlvia Rosemberg na redação foi fundamental para que a gente pudesse fugir da tendência então dominante, inclusive em mim mesma, de vitimizar a mulher. Foi um trabalho realmente coletivo, feito a muitas mãos e cabeças, e que certamente deixou muitos frutos dentro e fora de nós.

Inês Castilho

Integrante do Conselho Editorial

Foi uma honra participar do Mulherio como editora, de 1983 a 1988. Mas tenho poucos méritos na riqueza e originalidade de sua proposta editorial.

Recebi um jornal primoroso das mãos da primeira editora, Adélia Borges, e contei sempre com o apoio e aconselhamento da pesquisadora Fúlvia Rosemberg - uma das mães do projeto, ao lado de Carmem Barroso e da equipe de pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas. Contei ainda com colaborações preciosas, como a da historiadora Maria Lúcia de Barros Mott e a da jornalista Santamaria Silveira, na redação e edição de matérias escritas por muitas mulheres e alguns homens, de todo o país.

Imprimi ao jornal um cunho mais cultural que político, e o conduzi até o final com a criação de Nexo, revista de arte e idéias editada pelo poeta Duda Machado e o artista plástico Guto Lacaz - que durou efêmeros números.

Para mim, é um presente ver Mulherio (e Nexo) agora acessíveis para leitura e releitura, graças à iniciativa da Fundação Carlos Chagas. Testemunha de um tempo e de um lugar, reflexo de um momento histórico, Mulherio traz muitas matérias de interesse em suas quase quarenta edições. Boa leitura!

Outros olhares

Os depoimentos acima foram escritos no fim da primeira década dos anos 2000. Mais de 40 anos após o início de suas atividades, o Mulherio continua a despertar reflexões e boas lembranças. Para conferir outros relatos, escritos em 2022, por quem fez parte do jornal ou participou de sua história como autoras, leitoras e pesquisadoras, acesse os novos depoimentos.