Olhares sobre a educação: da sala de aula à relação com as famílias
Fundação Carlos Chagas participa de iniciativas para entender o cotidiano da sala de aula e as relações entre integrantes da escola
Autor- Luanne Caires,Em Pauta -18/07/2024 21:15:43
Entender a complexidade da sala de aula e das escolas requer análises que considerem a perspectiva de diferentes atores do processo educacional: professores, estudantes, gestores e familiares. Na pesquisa em representações sociais e educação, reunir as peças desse grande quebra-cabeça é um trabalho coletivo, que inclui diversidade de perguntas de investigação e de abordagens metodológicas. Parte desse trabalho passa também por um olhar atento aos estudos já desenvolvidos, seus resultados, as questões que ainda não foram respondidas e os caminhos que esses estudos indicam para o futuro daquela área. É com base nessa reflexão minuciosa sobre o passado e o presente, com vistas para o futuro, que a Fundação Carlos Chagas (FCC) desenvolve, desde 2018, o projetoOlhares Psicossociais para a Prática Docente. Nele, quarenta grupos de pesquisa buscam oferecer uma pluralidade de dados sobre o cotidiano escolar, com foco no trabalho dos professores. As atividades do grupo são pautadas por um caráter etnográfico, com orientações definidas em umprotocolode pesquisa para guiar a produção de informações sobre as representações de docentes e estudantes a respeito do ser professor, do ser aluno e do estar na escola. O projeto ocorre no âmbito doCentro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade - Educação (CIERS-ed)e daCátedra UNESCO sobre Profissionalização Docentes, ambos sediados na FCC. Novas perguntas, novas abordagensAdelina Novaes, pesquisadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da FCC e uma das coordenadoras do projeto Olhares Psicossociais, conta que a proposta nasceu a partir de um balanço das produções do CIERS-ed no aniversário de dez anos do Centro. “Fizemos uma base de dados grande, levantamos as publicações de todos os associados que fossem relacionadas ao CIERS-ed. Esse estudo permitiu que a gente identificasse aspectos que já havíamos compreendido, discussões que chegaram a um ponto de saturação e aspectos em que poderíamos avançar. Então, levantamos perguntas com maior complexidade para o desenvolvimento de um novo projeto”, compartilha. Nessa nova fase, a prioridade passou a ser a generalização analítica, e não apenas estatística, sobre os temas. Para isso, instrumentos de pesquisa padronizados e com questões fechadas para aplicação em diferentes contextos escolares — os quais geravam dados quantitativos agrupáveis e comparáveis — cederam espaço para a abordagem etnográfica, que é um tipo de trabalho de campo que descreve uma cultura. A nova metodologia permite maior liberdade para explorar aspectos particulares de cada contexto e aprofundar descrições que ressaltam características relevantes de culturas escolares distintas. A liberdade para direcionar as pesquisas é também um dos maiores desafios da abordagem etnográfica. Adelina aponta que é preciso estar sempre atento ao aprofundamento teórico a partir daTeoria das Representações Sociais (TRS), que une os pesquisadores envolvidos, mesmo que cada grupo de pesquisa trabalhe com um aspecto diferente da temática ou articule a TRS com outras teorias afins. “O segundo desafio é que estudos etnográficos demandam tempo. Você precisa ficar durante bastante tempo no campo. Então a gente tem o envolvimento de estudantes dos núcleos de pesquisa, mas um mestrado não dá tempo suficiente. A gente precisa do envolvimento de estudantes de doutorado”, complementa a coordenadora do projeto. A inclusão das famíliasAs dinâmicas em torno do contexto escolar não dependem apenas das práticas dos professores na sala de aula, mas também das relações com as famílias dos estudantes. O grupo de pesquisa Representações Sociais, Subjetividade e Educação dedica-se a esse eixo por meio do projetoTeachers’ Perceptions about Parents(Percepções dos Professores sobre os Pais, em tradução livre). O estudo tem o objetivo de compreender as percepções que os professores de diferentes países compartilham sobre os familiares e responsáveis pelos alunos, o que inclui, por exemplo, a participação da família na aprendizagem e como escola e família se influenciam mutuamente na educação das crianças e jovens.Desenvolvido emparceria com a University of Portsmouth(Reino Unido) e com a rede municipal de ensino de Taubaté (SP), o projeto é coordenado internacionalmente por Catherine Carroll-Meehan (University of Portsmouth) e nacionalmente por Adelina Novaes (Fundação Carlos Chagas) e por Edna Maria Chamon (Universidade de Taubaté e Universidade Estácio de Sá).Os dados sobre as representações dos professores serão coletados por meio de um questionário eletrônico a ser preenchido pelos docentes da rede de Taubaté. Entre as perguntas, há questões sobre a educação durante a pandemia de covid-19 e sobre uma possível valorização do trabalho docente pelas famílias durante esse período e no retorno às atividades presenciais. Os resultados poderão complementar aanálise sobre valorização do trabalho dos professoresiniciada pela Fundação Carlos Chagas em 2020, no projeto temáticoEducação escolar em tempos de pandemia na visão de professoras/es da Educação Básica. O projeto foi realizado em parceria com a UNESCO Brasil e com o Itaú Social. Saiba mais:Representações Sociais, Subjetividade e EducaçãoGrupo de pesquisa que privilegia a realização de investigações científicas, nas quais assume particular relevo a perspectiva psicossocial das representações sociais e a promoção do debate interdisciplinar, tanto no plano teórico como no metodológico. Ênfase é dada às questões relacionadas ao campo educacional e aos fenômenos psicossociais a ele associados, com foco sobretudo na formação e profissionalização docentes.Cátedra UNESCO sobre Profissionalização DocenteOs projetos vinculados à Cátedra UNESCO sobre Profissionalização Docente buscam, por meio de uma ação conjunta, obter os subsídios para a compreensão dos fatores que propiciam o bom desempenho docente, ao considerar os aspectos simbólicos envolvidos em sua prática e em seu contexto de atuação.