Reavaliação de práticas e participação da comunidade escolar foram aspectos positivos do contexto pandêmico, relatam diretores de escolas de São Paulo
Estudo revela, ainda, que diretores escolares tiveram baixa representação em pesquisas sobre a pandemia de covid-19
A gestão escolar e a garantia de implementação de orientações educacionais são diretamente relacionadas ao papel dos diretores de escola. Para superar não apenas os desafios do dia a dia, mas também os momentos de crise, é preciso refletir sobre as práticas que já estão implementadas no ambiente escolar, fortalecer aquelas com efeitos positivos e promover inovações. Apesar disso, poucas pesquisas que se dedicam a investigar a gestão escolar têm um foco explícito sobre a figura dos diretores.
As conclusões são parte do segundo volume do estudoEnsino remoto: a implementação de orientações da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo por diretores escolares, coordenado pelas pesquisadoras Angela Maria Martins e Cláudia Oliveira Pimenta no âmbito da Fundação Carlos Chagas, em parceria com pesquisadores da FCC, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid).
As pesquisadoras realizaram um grupo focal com diretores e vice-diretores de três Diretorias de Ensino (DER) do estado (DER/Sul 1; DER/Osasco e DER/Baixada Santista) a respeito de suas experiências durante a pandemia de covid-19.
Os relatos evidenciaram um perfil de ações individuais e voluntárias de gestores e professores para realizar suas atribuições no contexto de distanciamento social, como a entrega de merenda escolar e a localização de alunos por meio da busca ativa — práticas que já estavam presentes na escola antes da pandemia, mas cujos desafios ficaram mais evidentes no período.
Cláudia comenta que, apesar das dificuldades, os diretores afirmaram que o contexto pandêmico oportunizou reflexões sobre as práticas escolares, como no caso das avaliações, por exemplo: “No início da pandemia, os professores tentaram reproduzir o tipo de avaliação que faziam no presencial e que já tinha uma série de problemas por não ser utilizada para repensar o trabalho docente, repensar como o professor poderia auxiliar os estudantes a melhorar a aprendizagem. Então o caráter figurativo dessa avaliação ficou mais evidente para todos e, segundo os diretores, ele pôde ser rediscutido”.
A maior participação dos diferentes segmentos da comunidade escolar nos órgãos colegiados da escola, como o Conselho Escolar e a Associação de Pais e Mestres, também foi destaque do grupo focal.
“Os pais e outros responsáveis pelos estudantes, quase todos estavam em casa, então a escola conseguia organizar um horário em que era possível para mais pessoas participarem das reuniões on-line, de onde elas estavam. É diferente quando a reunião é presencial e a pessoa tem que estar ali, tem que se deslocar”, explica Cláudia.
A pesquisa incluiu, ainda, um levantamento da bibliografia sobre organização, funcionamento e gestão da escola pública durante a pandemia de covid-19 e o retorno às aulas presenciais. Das 48 publicações que tratavam diretamente da gestão escolar, em especial nas etapas do ensino fundamental e médio, apenas três corresponderam aos descritores “Direção escolar e pandemia” ou “Diretor(es) escolar(es) e pandemia”.
O resultado observado para o período pandêmico reforça um padrão que parece mais amplo: emoutro levantamento publicado em 2022 na revista Cadernos de Pesquisa, dos 691 artigos sobre gestão escolar produzidos entre 1989 e 2019, apenas 40 (6%) trataram dos diretores escolares.
Ao analisar a bibliografia sobre organização, funcionamento e gestão da escola pública durante a pandemia de covid-19, o estudo traz uma síntese do estado do conhecimento sobre como as publicações analisadas abordam políticas educacionais, as práticas implementadas nas escolas públicas durante o ensino remoto emergencial e as percepções e práticas de professores, estudantes e famílias sobre o ensino neste período.
O segundo volume do estudoEnsino remoto: a implementação de orientações da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo por diretores escolarescomplementa ovolume publicado em 2022, que evidencia que muitas das normativas estabelecidas pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para orientar as ações educacionais no contexto pandêmico foram baseadas em tentativa e erro, com indefinições e baixa efetivação. Ainda assim, o que se conseguiu implementar nas escolas denota a discricionaridade dos profissionais da educação, em especial, dos diretores escolares.
Saiba mais:
Ensino remoto: a implementação de orientações da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo por diretores escolares