Pesquisa aborda desigualdades na educação infantil no contexto da pandemia
Jade Castilho
10/10/2024 13:41:39
A partir da concepção de desigualdade como barreiras que aprofundam as diferenças sociais, uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Carlos Chagas (FCC), com apoio da Fundação Itaú Social (FIS), apresenta oscontornos das desigualdades na educação infantil, no contexto da pandemia.
O novo volume da sérieTextos FCCbuscou identificar e analisar ações que foram tomadas, no contexto da pandemia, pela rede municipal de educação de São Paulo e por instituições educacionais e que contribuíram para diminuir ou aumentar as desigualdades na educação infantil (EI) na visão dos professores.
O relatório foi coordenado pela pesquisadoraCláudia Pimentae contou com a participação da também pesquisadoraFabiana Fernandes,Raquel Valle, estatística, e Natália Pimenta, pesquisadora bolsista da FCC.
Na publicação, foram adotados procedimentos metodológicos com o uso de questionários para coleta de dados e grupos focais para o debate sobre conceitos, significados e impressões encontradas no levantamento.
As declarações das docentes que participaram do grupo focal revelaram que as interações entre as professoras e as crianças, tão importantes na fase de desenvolvimento de zero a três anos de idade, foram comprometidas em função da necessidade do isolamento e do distanciamento social. As professoras declararam que as crianças pediam colo e abraço e que foi muito difícil não atender suas necessidades de aproximação.
“Importante é mencionar também as crianças que nasceram no período da pandemia, a quem os docentes se referiam como “os filhos da pandemia”, conheceram as professoras no momento em que elas utilizavam máscaras faciais e sua retirada exigiu um novo processo de adaptação e de reconhecimento dos adultos que estavam mais próximos delas”, comenta Fabiana Fernandes, que atuou no projeto de pesquisa.
Para Cláudia Pimenta, doDepartamento de Pesquisas Educacionaisda FCC, as dificuldades enfrentadas por docentes e pelas crianças e suas famílias, durante a pandemia, parecem ter potencializado desigualdades já existentes nessa etapa da educação básica.
“Em linhas gerais, a Educação Infantil em nosso país é uma etapa em que as condições existentes nas redes e instituições educacionais, para promover o desenvolvimento do processo educativo, ainda são muito precarizadas”, comenta Cláudia Pimenta.
A pesquisadora ainda reforça que as questões de acesso à pré-escola, por exemplo, ainda não foram resolvidas.
“Uma criança que nunca frequentou a creche e que foi matriculada com 4 ou 5 anos na pré-escola, em 2020, praticamente só interagiu com seus colegas e com a professora por meio de telas, isso sem falar nas crianças em que as famílias não tinham acesso às ferramentas tecnológicas necessárias para esse fim”, finaliza.
Com as conclusões do estudo divididas em três atos, o relatório destaca que o retorno presencial das atividades nas instituições educacionais, ainda que com protocolos e medidas de segurança e distanciamento social, se configurou como um respiro e uma possibilidade de retomada da educação infantil, restabelecendo interações mais aproximadas entre professoras e crianças, interações essas, segundo as pesquisadoras, que se constituem como um princípio fundante da educação voltada para as crianças pequenas.
Confira o relatório completo da pesquisa publicado na sérieTextos FCC.
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Contornos das desigualdades na educação infantil, no contexto da pandemia