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Clima escolar: por que e como avaliar. Leia a coluna do pesquisador Adriano Moro em Nova Escola

A avaliação permite que cada indivíduo expresse suas impressões, vivências e sentimentos sobre a instituição de ensino

Adriano Moro

Publicado em:

21/01/2025 20:08:03

Data original da publicação:28/11/19 

Fonte:Nova Escola 

Muitos são os desafios da Educação em nossopaís, sobretudo quando pensamos em uma perspectiva macro, como sistema educacional. Mas, hoje, proponho considerarmos o cerne da Educação formal: a escola e o clima propício às diferentes aprendizagens. Como nós queremos que nossa escola seja?

A escola é nossa, e todos nós enquanto comunidade escolar queremos que ela seja cada vez melhor, que possua um clima escolar positivo visando a uma Educação de qualidade. 

Para tanto, é fundamental que a escola queira de fato se conhecer e reconhecer todos os aspectos que a avaliação do clima escolar propõe. Mas, esse processo só ocorre se, de fato, a instituição estiver aberta a tais investigações e comprometida com uma possível reforma do clima e melhoria da qualidade da Educação, em sua unidade.

A escola é o espaço privilegiado em que as relações de âmbito público se efetivam. É o lugar em que podemos nos instituir enquanto seres humanos, numa vida em sociedade, no exercício do diálogo como ferramenta de troca, compartilhamento e compreensão de ideias; na coordenação de perspectivas, reconhecendo e validando a importância dos que convivem conosco. 

Tais concepções nos ajudam a conviver e a estudar juntos. Essa concepção de escola pautou a construção dos instrumentos que avaliam o clima escolar, contemplando a complexidade e a riqueza do ambiente educacional.

Uma avaliação sobre o clima escolar permite que cada indivíduo expresse suas impressões, vivências e sentimentos sobre a instituição de ensino. O conjunto das percepções de todos os indivíduos, na escola, fornece umafotografia do ambiente socioeducativo, possibilitando um reconhecimento do que está acontecendo, tanto dos pontos fortes como dos vulneráveis. 

Isso favorece a hierarquização das prioridades e das áreas para as quais os esforços de melhoria, planos de ação e intervenções devem ser direcionados.

A avaliação do clima escolar pode ser feita a partir de questionários, que contemplam oito dimensões que interagem entre si. São elas: 1. As relações com o ensino e com a aprendizagem; 2. As relações sociais e os conflitos, na escola; 3. 

As regras, as sanções e a segurança, na escola; 4. As situações de intimidação entre alunos; 5. A família, a escola e a comunidade; 6. A infraestrutura e a rede física da escola; 7. As relações com o trabalho; 8. A gestão e a participação. As duas últimas são aplicadas somente a professores e gestores.

Apesar das oito dimensões estarem ligadas entre si e possibilitarem uma avaliação abrangente do clima escolar, cada uma delas pode ser analisada separadamente, o que nos possibilita mensurar aspectos específicos que compõem o clima. 

Por exemplo: a escola pode ter interesse em verificar especificamente como estão as percepções de seus atores sobre oclima relacional, analisando as dimensões 2, 3 e 4 citadas acima.  Ou então, pode demandar uma investigação sobre oclima organizacional, no sentido de mensurar as percepções dos professores e gestores com relação as dimensões 7 e 8. É importante destacar que intervenções pontuais visam a melhorias específicas, mas para se tratar do clima escolar como um todo, é necessário considerar as oito dimensões.

O diagnóstico do clima escolar, por meio das percepções dos atores escolares (alunos, professores e gestores), fornece informações fundamentais para que a instituição promova uma reflexão conjunta com toda sua comunidade e, a partir daí proponha planos de ações e intervenções no sentido de promover um melhor ambiente socioeducativo. 

Enfatizamos, contudo, a importância da parceria da escola com universidades, instituições de formação e o auxílio de especialistas, sobretudo de um olhar especializado de um pesquisador que estude os aspectos quanto à qualidade do ambiente sociomoral, justamente para que haja uma interpretação compartilhada sobre a realidade da escola.

De outro modo, a escola pode perceber como positiva uma determinada dimensão, justamente por estar vinculada ao seu cotidiano, não sendo capaz de perceber como problemáticas algumas questões. Por exemplo: ao avaliarmos a dimensão relacionada ao ensino e à aprendizagem, os instrumentos de medida podem captar as percepções de alunos e professores classificadas como positivas quanto às práticas pedagógicas que ocorrem em sala de aula, mesmo que tais práticas possam estar pautadas na ideia de transmissão e reprodução do conteúdo, sem planejamento ou elaboração de propostas e atividades interdisciplinares, diversificadas e desafiadoras. 

Tais resultados podem ser coerentes na medida em que os professores e alunos da instituição avaliada não conhecem outras possibilidades de trabalho.

Alguns critérios,descritos no Manual de Orientação para a Aplicação dos Questionários que avaliam o Clima Escolar,devem ser considerados para que a instituição possa realizar sua avaliação:

  • A finalidade do uso pelas unidades escolares é a de orientar o planejamento de intervenções, visando à melhoria da qualidade do clima, assim como mensurar sua eficácia;
  • A participação de uma escola deve ser sempre voluntária, jamais imposta. Essa forma de parti­cipação também é válida para os respondentes. Em caso de pesquisa, recomenda-se que, antes de iniciarem o preenchimento do questionário, os respondentes preencham um Termo de Consentimento e/ou Assentimento Livre e Esclarecido, o qual deve ser redigido conforme os objetivos do aplicador e/ou pesquisador (neste caso em conformidade com os requisitos legais da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP, sobre pesquisas que envolvem seres humanos).
  • Com exceção da realização de pesquisa em que as escolas não são identificadas, os resulta­dos jamais devem ser divulgados, no sentido de comparar ou ranquear as instituições escolares.
  • Cada escola tem seu próprio clima. A avaliação indicará o que vai bem e o que pode ser me­lhorado nessa determinada instituição ao serem analisadas as respostas aos itens. Nesse sentido, não existe “clima de um conjunto de escolas” de uma região, não sendo válido considerar como clima a média das avaliações do clima de cada escola.

Considera-se que a busca por uma Educação de qualidade é o objetivo de todas as instituições de ensino. Nessa perspectiva, os resultados devem servir para levantar informações das especificidades da escola, já que os questionários propiciam o conhecimento das diferentes percepções dos atores da instituição de ensino. 

Essas informações são fundamentais para que a escola possa se conhecer, sob as diferentes e compartilhadas perspectivas, de modo a implementar ações de melhoria, com base em evidências, levando em conta o que já fazem bem e o que precisa ser melhorado.

Adriano Moroé doutor em Educação pela Unicamp e mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Ele é pesquisador do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas (FCC) e integra o Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem), da Unicamp/Unesp.

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