Estudo analisa os impactos da pandemia nos anos iniciais do Ensino Fundamental
Pesquisa revela que escolas de alto desempenho pré-pandemia foram as mais afetadas. O uso de recursos pedagógicos teve impacto limitado na mitigação dessas perdas
Os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a educação básica representaram transformações e consequências que ainda estão sendo mensuradas e pesquisadas. Pensando nisso,um estudo publicado na Estudos em Avaliação Educacional (EAE)analisou o impacto da crise no desempenho escolar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a partir dos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Censo da Educação Básica.
Os resultados revelam que escolas de alto desempenho pré-pandemia sofreram as maiores perdas de aprendizado, sobretudo aquelas com menor capacidade institucional e que atendem alunos de baixo nível socioeconômico. Com isso, a pesquisa aponta que osistema foi nivelado por baixo.
Como alternativa para evitar o contágio pelo novo coronavírus – cuja pandemia global foi declarada em 11 de março de 2020 –, escolas por todo o mundo tiveram de ser fechadas com a suspensão das atividades pedagógicas presenciais por quase todo o ano letivo de 2020 e parte do ano letivo seguinte.
Por apresentarem maior dependência do acompanhamento escolar e docente, as crianças em seus primeiros anos de escolarização, por exemplo, foram as mais expostas ao risco de não aprendizado. Distantes da escola, elas tornaram-se mais dependentes do suporte familiar para acompanhar as atividades remotas e as lições de casa, o que tornou os efeitos deletérios da pandemia dramaticamente piores para os alunos mais vulneráveis.
A pesquisa demonstrou que, embora muitas escolas tenham mobilizado recursos tecnológicos e pedagógicos para enfrentar o contexto pandêmico, eles não foram suficientes para conter a crise. O impacto foi mais severo em Matemática, com perdas equivalentes a mais de um ano letivo em algumas redes de ensino. De acordo com o levantamento, a perda de desempenho se concentrou nas escolas que antes apresentavam bons resultados, especialmente aquelas de baixo nível socioeconômico, comprometendo a equidade educacional e ampliando a distância entre estudantes em função da origem social.
Por fim, a pesquisa alerta para a necessidade de estratégias robustas de apoio às escolas e aos estudantes, com o objetivo de garantir que as crianças tenham direito à recuperação da aprendizagem, para que, em caso de futuras crises, não se aprofundem, ainda mais, as desigualdades que atravessam a educação brasileira. Para isso, segundo a pesquisa, é preciso considerar estratégias para mitigar os efeitos sobre os mais vulneráveis: investimentos em infraestrutura, formação docente e políticas de inclusão digital são fundamentais para um sistema educacional mais resiliente.
Referências:
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Leia o artigo:
https://doi.org/10.18222/eae.v35.10525
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